top of page

Tradição de ensino e linhagem de professores

Linhagem.JPG

Mestres

Dakshinamurti 

Para se adquirir o conhecimento claro de Vedanta, é fundamental fazer parte de uma linhagem, sem cortes, de mestre/discípulo, chamada de "guruparampara". O contato direto com um professor ou professora, aprendendo através do estudo de vários textos, em aulas diárias, em ambiente propício, durante algum tempo, é fundamental. A linhagem de mestres do Vidya Mandir vem do próprio Senhor Dakshinamurti, o primeiro mestre, passando pelo grande mestre Sri Shankara, mais recentemente, Swami Tapovan, Swami Chinmayananda, Swami Dayananda e Gloria Arieira.

Shankaracharya.jpg

Sri Shankara

Sri Shankara é considerado um dos grandes mestres da tradição de Advaita (não-dual) Vedanta. Ele nasceu em Kalady, no estado de Kerala, no sul da Índia e viveu no século VIII de nossa Era. Tornou-se um Sadhu (renunciante), partindo de casa muito jovem.

Estudou sob a orientação do mestre Govindapada, que vivia às margens do rio Narmada, no oeste da Índia, e viajou a pé por todo o país, como era costume na época. Devemos a Bhagavan Shankara a forma escrita da tradição do ensinamento dos Vedas, que atravessou os séculos e chegou até os nossos dias, intacta em sua essência.

Ele não somente conseguiu transmitir o ensinamento em forma escrita num estilo muito agradável e profundo, como escreveu também comentários sobre esse ensinamento.

São os comentários de Shankara que formam a base para a tradição do ensinamento conhecido como Vedanta. Existem outros comentários escritos sobre o ensinamento dos Vedas, mas foram os de Sri Shankara que permaneceram e foram seguidos por todos aqueles que vieram depois dele.

É dito que Sri Shankara morreu aos trinta e dois anos, no norte da Índia, em Kedarnath. Ele não foi o iniciador de Advaita Vedanta, mas sim um dos elos dessa antiga tradição de ensino. Não criou nada novo, mas tratou de questões contemporâneas do ponto de vista do ensinamento, o que fez dele um grande mestre e símbolo do próprio conhecimento que transmitiu.

Quatro foram seus principais discípulos - Sureshvara, Padmapada, Totaka e Hastamalaka. Sri Shankara fundou quatro centros de estudos nos quatro cantos da Índia, e em cada um desses estabeleceu um de seus discípulos. Depois desses, foram escolhidos outros que se tornaram chefes desses maths, centros de estudos, até os dias de hoje. Cada um recebe o título de Shankaracarya. E, assim, Sri Shankara ficou denominado de Adi Shankara, o primeiro Shankara.

Esses quatro maths são assim localizados:  Sringeri (ao Sul), Puri (a Leste), Joshimath (ao Norte) e Dwaraka (a Oeste). Todos estes continuam fortes reservatórios de estudo dos Vedas, particularmente do ensino tradicional de Vedanta.

tapovan-maharaj-updated02-min.jpg

Swami Tapovan

Swami Tapovan nasceu em Palghat (hoje denominada de Palakkad), Kerala, em 1889, no dia auspicioso de ekadashi (o décimo primeiro dia da quinzena lunar brilhante) do mês Margashirsha (que vai de novembro a dezembro), no dia da Nakshatra/constelação Revati, que era também o dia auspicioso de Gita Jayanti, dia da Bhagavadgita, possivelmente no dia 6 de dezembro de 1886. Sua mãe, Kunchamma, pertencia a uma família aristocrática de Kerala, a família Nair de Palghat. Seu pai, Achutan Nair, era de Kotuvayur, Kerala.

O bebê que nasceu para esses pais foi chamado de Subramanian Nair, mas seu apelido era Chippukkutty. Desde pequeno Chippukutty mostra grande interesse por assuntos religiosos e espirituais e se interessa pelas estórias dos Puranas. Quando entra para a escola inglesa local, mostra inteligência e capacidade de aprendizado, mas ao mesmo tempo desinteresse pela forma que as escolas ensinavam. Logo ele resolve pedir ao pai para deixar a escola, mas para seguir os estudos de forma tradicional, com professores particulares. E assim faz até seus 17 anos e dedica-se ao estudo de Vedanta, lingüística e literatura tanto em sua língua mãe, Malayalam, quanto em Sânscrito, e aprende também o inglês. Estuda poesia, peças teatrais, gramática e lógica. Encanta-se com a leitura de textos religiosos em Malayalam, Tamil, Sânscrito e Inglês. Pratica muitas disciplinas espirituais. Desde pequeno vive uma vida comum aos renunciantes espirituais, dedicada à meditação, estudos, reflexão, bhajans; não se interessava por prazeres do mundo.

Os pais de Chippukutty faleceram antes de ele completar 21 anos.

Ele então assume a responsabilidade de cuidar do irmão até que este tenha se formado e esteja casado. Chippukutty vive com a família, mas sua vida tinha o constante foco espiritual. Ele se nega a casar, apesar da pressão da família. Sempre que podia visitava swamis e yogis e estudava com eles.

No ano de 1912 ele foi editor de uma revista chamada "Gopala Krishna", dedicou-se a palestras públicas sobre política, religião e Vedanta, e escrevia artigos para jornais. Ele era muito respeitado pelos jovens de sua idade e também pelos mais velhos. Essas atividades acontecem até seus 28 anos. Então ele perde o interesse e dedica-se exclusivamente ao assunto religioso-espiritual. Suas viagens são para encontrar sábios e santos como Sri Ramana Maharshi em Tiruvannamalai, Tamil Nadu e o chefe da Ramakrishna Mission em Chennai, entre outros.

Em 1920 ele foi convidado pelo então Sankaracharya de Sarada Peetham, Dwaraka, para passar um tempo em Calcutá a estudar e meditar. Ele aceita imediatamente o convite e vai. De lá segue para Haridwar e Rishikesh e no caminho de casa visita Delhi, Mathura, Brindavan, Pushkar e Dwaraka. Essas viagens mudam completamente sua vida. Ele aprecia a solidão das florestas e montanhas; faz muito jejum ou se alimenta somente uma vez ao dia; estuda os shastras, medita e canta bhajans. Os anos se passaram e seu irmão se forma em direito, então o jovem Chippukutty prepara-se para sair de sua casa em Kerala e dedicar-se exclusivamente à vida espiritual. Quando ele viaja, seu irmão pede que ele volte logo, mas ambos sabem que não haveria retorno. Ele vai para Panchavati, perto de Nasik, onde permanece por algum tempo com um mahatma chamado Swami Hridayananda. Então ele segue para a margem do rio Narmada e assume a vida de um renunciante. Segue então sua peregrinação e dirige-se a Prayag e depois a Ayodhya, também na companhia de mahatmas. Depois vai para Rishikesh e lá permanece durante algum tempo e pratica samadhi; é formalmente iniciado na ordem de sannyasa pelo chefe do Kailas Ashram, Sri Swami Janardana Giri, e chamado de Swami Tapovanam (que significa floresta de austeridade).

Ao permanecer em Rishikesh, durante o verão ia até Uttarkashi, a pé.

Suas peregrinações a vários lugares nos Himalayas são descritas em seu livro "Wandering in the Himalayas". Ele visitou também o monte Kailasa e monastérios tibetanos. Essas viagens são contadas no livro "Kailas Yatra". Em 4 ou 5 anos de sua permanência em Rishikesh, Swami Tapovan tornou-se muito conhecido. Ele ficou famoso devido a sua dedicação ao conhecimento e capacidade de desapego e sacrifício. Muitas pessoas foram atrás dele e ofereceram seus serviços, porém Swamiji continuou sua vida só e sempre saia de Rishikesh assim que o clima permitia pois achava que a cidade de Rishikesh estava muito agitada. Ele nunca desceu além de Rishikesh, apesar de receber inúmeros convites de devotos ricos. Uttarkashi, Gangotri e Badrinath eram seus lugares favoritos. Alguns poucos estudantes o acompanharam desejosos de escutar seus ensinamentos de Vedanta.Swamiji escreveu vários livros, inclusive um de poemas na ocasião da morte de seu pai. Escreveu comentários sobre algumas Upanishads, como Isha, Kena e Katha. Escreve vários hinos em Sânscrito e, a pedido de devotos, escreve também em Sânscrito sua autobiografia "Iswara Darshana". Os escritos de Swamiji são inspiradores e pontuados por ensinamentos de Advaita Vedanta. Seu livro "Wandering in the Himalayas" é poético e especialmente inspirador por seu amor pela natureza e a apreciação de Ishvara em cada expressão da natureza admirada por ele em suas peregrinações. Swami Tapovan foi um grande sábio de Advaita Vedanta e sua vida continua a nos inspirar até hoje.

Viveu uma vida tranqüila de disciplina e rigor, imposta a si mesmo e a seus discípulos. Ao mesmo tempo tinha compreensão e compaixão por todos que entravam em contato com ele.

Permaneceu às margens de Ganga e peregrinando, a pé, pelas montanhas dos Himalayas.Com o tempo, a saúde de Swamiji foi declinando, mas ele nada disse.

Os discípulos vieram a saber somente quando seu corpo já havia perdido muitos quilos. Ele continuou durante toda sua vida com suas disciplinas e nunca aceitou tratamento nem tampouco a ida para um hospital. Dizia que seu corpo seguiria sua própria trajetória natural. Vários devotos e mahatmas foram visita-lo em Uttarkashi. No dia 16 de fevereiro de 1957, na hora auspiciosa de Brahma-muhurta, Swamiji entrou eternamente em samadhi. Era um dia auspicioso. Dia do festival anual no templo de Viswanath em Uttarkashi. Neste dia, devotos e mahatmas de toda parte da India vão para este templo. Os devotos e discípulos de Swamiji jogaram água de Ganga em seu corpo, passaram pasta de sândalo e vibhuti no corpo, decoraram com guirlandas de flores e o depositaram nas águas de Ganga. Aqueles que participaram deste ritual banharam-se a seguir na sagrada Ganga cheios de devoção e homenagem ao Swamiji. 

Não só sua vida foi especial, como também foi o momento e o lugar de seu samadhi final.

chinmayananda.jpg

Swami Chinmayananda 

Sri Swami Chinmayanandaji nasceu em 8 de maio de 1916, às 19,30horas, em Ernakulam, Kerala, no sul da Índia, com o nome de Balakrishnan Menon; seu apelido era Balan.Sua mãe, Parukutti Amma, e seu pai, Vadakkekurupath Kuttan Menon, pertenciam a uma família aristocrática muito conhecida. Seu pai, que era da cidade de Trichur, torna-se juiz em Ernakulam. Sua mãe era irmã do Chefe de Justiça de Cochin. O sobrenome Menon indica que as pessoas desta casta são de família nobre da qual fazem parte os Nairs.

Quando Balakrishnan nasceu, o astrólogo disse que ele seria muito conhecido e faria um trabalho extraordinário. Balan foi muito estudioso e formou em Ciências, Inglês e Literatura Inglesa. 

O jovem Balan era muito entusiasmado e fez parte ativa do movimento para a retirada dos ingleses da Índia, em 1942 - "Quit India Movement". Balan escrevia artigos, distribuía panfletos e fazia discursos. Muitos ativistas deste movimento morreram, outros foram colocados na cadeia. Quando Balan soube que sua prisão havia sido declarada, ele foi para Kashmir e lá permaneceu em 1943.

 

Depois de algum tempo, pensando ter sido esquecido pela polícia britânica, Balakrishnan retorna ao movimento pela libertação da Índia, porém ele foi pego e colocado, junto com outros, em celas frias e escuras, com pouca comida e sem condições higiênicas. E, por esta razão, muitos prisioneiros morriam diariamente. Balakrishnan contraiu febre tifóide.

A polícia, achando que ele estava morto, coloca-o na rua.

Logo uma senhora vem de carro e para; ela pensou que Balan era seu próprio filho que lutava na Europa em tropas britânicas. Ela leva Balan para casa e cuida dele. Depois de algumas semanas ele estava curado. Balan trabalhou como jornalista no jornal "The National Herald". Ele desejava colaborar para a reforma política, econômica e social da Índia. Um dia, como jornalista, Balakrishnan foi ao encontro de Swami Sivananda que tinha um ashram em Rishikesh. Balakrishnan queria escrever um artigo sobre os renunciantes. Após este encontro sua vida muda completamente. Balan torna-se um renunciante em 25 de fevereiro de 1949 e recebe o nome de Swami Chinmayanada Saraswati do próprio Swami Sivananda Saraswati.

Após permanecer alguns anos no ashram de Rishikesh, Swami Sivananda diz que ele deve ir ao encontro de Swami Tapovan para aprofundar seus estudos, pois viu o grande interesse, dedicação e questionamento profundo do jovem Swami Chinmayananda.Swami Tapovan era um grande estudioso e sábio; era também conhecido por suas rigorosas disciplinas. Swami Tapovan era rigoroso também com seus discípulos e quando Swami Chinmayanada pede que lhe ensine, Swami Tapovan diz que falaria tudo uma única vez e que não poderia ser questionado.

Swami Chinmayanada permanece alguns anos com seu mestre, não só em um pequeno ashram em Uttarkashi, mas peregrinando com o mestre pelo Himalayas. Em 1952, Swami Chinmayananda pede as bênçãos de seu mestre para descer as montanhas e ensinar Vedanta às pessoas que moravam nas cidades. No princípio Swami Tapovan não gostou da idéia e disse que ele permanecesse onde estava, se pessoas estivessem interessadas em estudar Vedanta que fossem até onde eles estavam. Porém com muita insistência por parte de Swami Chinmayananda, o mestre concorda e diz que ele tentasse três vezes. Se houvesse mais de três pessoas nas aulas, que ele continuasse, caso contrário, que retornasse para Uttarkashi.

Nas primeiras palestras havia somente uma pessoa, além do organizador e o faxineiro, disse Swami Chinmayananda.

Depois de algum tempo, ele começa a fazer séries de palestras de Vedanta, sobre Upanishads e a Bhagavadgita. Estas séries de aulas duravam por volta de 15 dias, com aulas de manhã e ao anoitecer, e foram chamadas de Jnana Yagna (Ritual de conhecimento, palavra tirada do capítulo 4 da Bhagavadgita).

O primeiro Jnana Yagna teria sido em Pune, no estado de Maharastra. ( No final de sua vida, foram contabilizados 576 Jnana Yagnas realizados por ele em vários partes do mundo).

Em 1953, alguns de seus discípulos muito entusiasmados de Madras (antiga Chennai) começaram um grupo de estudos que denominaram de Chinmaya Mission. Apesar de Swamiji não querer fundar uma instituição, o grupo continuou e deu origem posteriormente à conhecida instituição comandada pelo próprio Swami Chinmayananda e atualmente por um discípulo seu.

Em seus 42 anos de ensinamentos e viagens, Swamiji realizou um grande trabalho social, construiu escolas, hospitais, clínicas e comandou a reconstrução de alguns templos. Publicou mais de 35 livros, incluindo comentários das Upanishas e Bhagavadgita. A partir de suas palestras nasceram muitos livros, inclusive um sobre o simbolismo das deidades hindus. Todos os livros e vídeos são claros e elucidativos. Swami Chinmayanda de fato lutou pelo renascimento da tradição védica e foi original ao começar a ensinar em inglês pois desejou atingir os indianos cultos que haviam sido influenciados pelos britânicos que dominaram o seu país por tanto tempo.

Ele era conhecido por sua clareza, sabedoria, humor e grande domínio da língua inglesa culta. Sua presença era amorosa ao mesmo tempo que disciplinadora. Foi e continua sendo fonte de inspiração para milhões de pessoas na Índia, nos Estados Unidos, Canadá e tantos outros países.

Ele alcançou o mahasamadhi, abandonando o corpo físico, em 3 de agosto de 1993. Existe uma memorial para ele na casa onde nasceu Sri Sankara, hoje cuidada pela Chinmaya Mission, em Ernakulam, Kerala.

Pranavananda.jpg

Swami Pranavananda

O ilustre desconhecido que fez a diferença, e a influência de Ramana Maharshi na sampradāya do Swami Dayananda

Este texto é ao mesmo tempo uma reflexão e uma forma de honrar alguém que me tocou profundamente, cuja bênção procurei, mas que nunca conheci porque morreu 11 anos antes de eu nascer. Ele é o ilustre desconhecido que fez a diferença para todos nós, discípulos de Swami Dayananda.

            É conhecido que o Swami Dayananda teve três mestres, Swami Chinmayananda, Swami Pranavananda e Swami Tarananda. Aos longo dos anos de estudo presencial com o Swamiji e de todas as horas que o ouvi a ensinar através de gravações, sempre foi para mim de imenso interesse ouvi-lo falar sobre os seus mestres.

E de todas as histórias, as que mais me tocavam eram invariavelmente as que contava sobre o Swami Pranavananda. Havia qualquer coisa de diferente nele. Ao contrário de Swami Chinmayananda sobre quem se pode ler e saber muito ou mesmo do Swami Tarananda de quem também ouvi histórias da minha mestra Gloria Arieira, sobre o Swami Pranavananda sempre era um vazio. Tinha morrido há muito e quase sem legado conhecido.

            Uma vez, na livraria do Ashram em Rishikesh, vi pela primeira vez uma fotografia dele. Impactou-me profundamente. Realmente senti uma conexão profunda com este homem. Desde então, a fotografia dele está sempre aonde trabalho, numa moldura com Vyasa ao centro, Ramana Maharshi à esquerda e Swami Pranavananda à direita. Mal eu sabia quanto eles tinham em comum! É o lugar dos mestres dos meus mestres. Em cima tenho um quadro de Sri Shankara pintado por um conhecido pintor italiano, que me foi oferecido pela também minha mestra Ganga Mira.

           

Porque é que o Swami Pranavananda é tão importante?

            O Swamiji contava que em determinada altura da vida dele sentia que faltava algo, havia para ele um defeito no vedānta. O vedānta era uma teoria que tinha de ser posta em prática através de uma experiência. Esse entendimento falhou em trazer-lhe a própria verdade de advaita vedānta. Numa circunstância, o Swamiji disse que tinha vontade de deitar todos os livros fora, mas que a própria educação tradicional dele não o permitiu.

            No livro Swami Dayananda Saraswati, Teacher of Teachers[1], o Swamiji diz:

“O ensinamento prevalente era que o vedānta era uma teoria e que nós tínhamos de praticar certas coisas para ganhar a experiência do ātmā. Mas isto levantava várias dúvidas em mim. Se é uma teoria, pode ser contestada. Se é uma experiência pode ser interpretada de forma diferente. Também para experimentar o ātmā, tem de haver uma experiência sujeito-objecto. Se o ātmā é o objecto experimentado, então quem é o experimentador? É ele anātma? Como ia eu resolver tudo isto?”

“Este foi um ponto crucial na minha vida. Devia eu continuar a estudar vedānta ou não? Eu passei noites sem dormir.”

 

            Foi aqui que apareceu o Swami Pranavananda. Ainda no mesmo livro, o Swamiji diz:

“Eu ainda estava à procura de uma resposta. Nessa altura eu ouvi, em algum lado, uma palestra em Telegu pelo Swami Pranavanandaji. Imediatamente, impressionou-me que este homem sabia alguma coisa. Eu pensei, eu tenho de ir e ficar com ele e tentar entender o que ele tem a dizer, mesmo que eu não fosse fluente em Telugu.”

 

            Assim, o Swamiji foi aprender com o Swami Pranavavanda. O Swamiji contava que quando foi a primeira vez estudar com o Swami Pranavananda para Gudivada, este, procurando honrá-lo, convidou-o para dar uma palestra aos seus alunos. O Swamiji pensou então ir pelo seguro (no seu entendimento ao tempo) e decidiu dar uma palestra sobre os quatro tipos de yoga, karma, bhakti, rāja e jñāna yoga para diferentes tipos de personalidade. O rosto do Swami Pranavananda foi-se fechando cada vez mais, até que ele mandou o Swamiji parar e sentar-se para ouvir! Imagine-se o que terá sido para o Swamiji! Mas a honestidade intelectual do Swamiji, a vontade de aprender e o desejo por mokṣa eram maiores do que qualquer sentido de afronta.

Foi nesta altura que o Swamiji ouviu que advaita vedānta não era uma teoria, mas um pramāṇam, um meio de conhecimento, para si mesmo, como os olhos são para as cores e formas. Nas palavras do Swamiji, ele perguntou a Swami Pranavananda: “Vedānta é como os meus olhos para as cores? Sim é. Não pode ser negado por outro meio de conhecimento? Não.” Ele disse-nos, então, “para mim não houve mais volta atrás.” (“for me there was no more looking back”). Nunca mais esqueci esta frase do Swamiji, a força que a sua voz carregava e o impacto que deixou em mim.

O Swamiji contava que o Swami Pranavananda só ensinava Pancadaśī. Ele começava um capítulo, mas nunca acabava. A partir de um momento no texto, ele descolava do próprio texto (“He would take off”) e ensinava livre. O Swami Pranavananda manuseava o vedānta como um pramāṇam e era isso que faltava ao Swamiji. Nas suas palavras[2]:

“Depois eu tive de voltar a olhar para todo o vedānta de novo. Agora, eu tinha a chave.

...

Ninguém me ensinou Upanishad Bhāṣyam ou Gītā Bhāṣyam. Pela graça de Īśvara, eu fui capaz de entender quando as estudei. Mais tarde, eu ensinei aos meus alunos, mas ninguém me ensinou. Depois, eu estudei o Brahmasūtra bhāṣyam com o Swami Taranandagiriji e ajudou-me a ter maior clareza. A visão tornou-se clara.”

 

No Blog da Swamini Tattvavidyananda[3], a minha professora de canto, encontrei publicado o tributo que o Swami Dayananda fez ao seu mestre aquando da sua morte em Maio de 1969. Esse tributo foi publicado na edição de Junho de 1969 da revista Tyagi, que o Swamiji editava. Traduzo esse tributo:

“Sua Santidade Swami Pranavananda de Gudivada atingiu Mahāsamadhi a 15 de Maio de 1969. Por insistência de Sri Swamiji, eu vivi com Sri Swami Pranavananda no seu ashram por alguns meses em 1961-62, e dali em diante eu estava em contacto com ele.

Em ensinar ātmā vidyā, existe uma tradição no nosso país. Se ela não é conhecida por um professor, ele nunca conseguirá transmitir o conhecimento da śruti a um buscador. Assim como os olhos são um pramāṇa para todas as percepções de formas, a śruti através de um professor vivo, torna-se um pramāṇa para o auto-conhecimento. E, portanto, o método de ensino é importante. Se não existe método tradicional ao ensinar esta vidyā, não existe necessidade de um guru; alguém pode ler os livros com algumas qualificações preliminares gerais para ler e entender.

Muito poucos conhecem a importância deste método, menos ainda o método. Por causa desta omissão, a vidyā inteira prova-se sem sentido na medida em que se torna objetiva. O professor através do método tradicional de ensino da śruti põe o aluno na experiência actual, à medida que o professor ensina, de uma forma peculiar que é tradicional, a natureza de si mesmo, o eu.

O Swami Pranavananda era um destes mestres professores. O seu manuseio habilidoso das escrituras molda paradoxos usados para, assim como os koans do mestre Zen, desenredar o raciocínio do estudante dos seus conceitos relativos e assim trazer o reconhecimento súbito ou satori.

Eu descobri nas suas aulas este aspecto principal do nosso ensino tradicional. Quando o encontrei, há uns meses atrás, ele estava deitado na cama, mas ele era claro no seu pensamento e alegre como de costume. Ele sabia que não havia cura para a doença da qual sofria. Quando me despedia dele, depois de uma estadia de dois dias no ashram, pedi-lhe que me desse uma mensagem para os buscadores. Ele ditou imediatamente em Telegu para um dos residentes no ashram, algumas linhas, de facto, a essência das nossas escrituras. Eu traduzo o mesmo, aqui abaixo:

´A doença que acometeu este corpo é demasiado séria para qualquer cura, ela desparecerá apenas a expensas do corpo. Portanto, os remédios ou médicos não devem ser culpados se falharem em resultar. Devido a esta incapacidade, a minha mente não é de modo nenhum afligida. Eu considero que tudo é pelo melhor.

Liberdade é a natureza de si mesmo, o “eu”, e o si mesmo é idêntico a Brahman, que é não dual. Portanto, o si mesmo, como Brahman, é livre de todo o modo de dualidade, como sajātīya, vijātīya e svagata.

No último verso da Bhagavadgītā é dito que brahmī sthiti é o destino desta vida e por isso a morte não pode viajar com o prāṇa.

Karma e upāsana são seguidos pelas pessoas, apenas pela sua identificação com o corpo, dehātmā buddhi. O corpo que não é o si mesmo, o “eu”, é tomado pelo si mesmo e é por causa desta razão que existe a busca de karma e upāsana. Portanto, esta busca não pode ser tomada como mokṣa.

Supõe que uma pessoa, de nome Rama, está a dormir. Se ele é chamado por alguém “Rama”, ele acorda. De forma semelhante, com as palavras profundas da śruti, se o mestre revela ao aluno a identidade de si mesmo com o absoluto, o aluno acorda para descobrir a sua identidade com Brahman.

Assim, mokṣa é apenas através do ensinamento do mestre e da śruti. É isso que é indicado por Shankara no seu famoso verso: brahma satyam, jagan mithyā jivo brahmaiva nāparaḥ. Brahman, o absoluto é real, o mundo é aparente; o jīva, o conhecedor, não é diferente de Brahman, o absoluto. Isto e isto apenas é a mensagem de Adi Shankara. Todos os outros seguem este ensinamento. Por isso, eles não têm conteúdo original.

Tu és aquele é a afirmação profunda da verdade revelada a Svetaketu como encontramos no Sāma Veda. A mahāvākya tat tvam asi conhecida como upadeśa vākya é a principal entre todas as outras na śruti. Todas as outras são apenas centradas nesta.

Karma e upāsana são executados retendo o ahamkāra. Este usufruir dos resultados da acção só existe quando o “eu” é tomado pelo ego. E a libertação assim como também o aprisionamento, embora pertençam ao ego, aparecem como se pertencessem ao “eu”.

Esta falta de discernimento que é algo natural ao intelecto que é extroverso, não vai embora facilmente a não ser que alguém ouça, por um bom período de tempo de um mestre, as escrituras, reflicta e contemple naquilo que ouviu.

Por isso, viver com o mestre, gurukulavāsa, é imperativo. É apenas por isto que o sannyāsāśrama está em voga. Está é a essência de todos os śāstras. Mantem isto sempre no teu coração. A noção que o mundo é real tem de ser dissipada. Esta é a prática, contemplação. `

O Swami ditou tudo isto com a sua usual clareza de expressão. Era evidente para ele que não existe morte para um sādhu, nem eu sinto que ele tenha morrido alguma vez.”

 

            A primeira vez que li este texto emocionei-me como tantas outras vezes depois que voltei a ler. Afinal, devemos tanto a este mestre que ficou praticamente desconhecido. A imediatez que muitos atribuem apenas aos satsaṅgas de advaita vedānta, não é deles. Ela não é pertença de uma forma de ensinar sem recurso ao śāstra. Ela é da própria tradição, ela é presente no Bhāṣyam de Sri Shankara! Infelizmente, como o Swamiji descobriu estava perdida, na dita tradição. A tradição de ensino não se encontra numa organização estruturada de forma tradicional ou não. Ela encontra-se no manuseio das palavras.

           

            Qual seria a história deste mestre Swami Pranavananda? E com quem teria ele aprendido?

            O próprio Swamiji perguntou-lhe[4]:

“Eu perguntei ao Swami Pranavanandaji quem o tinha ensinado. Ele disse:´Eu não estudei formalmente. Mas houve um Avadhuta mahatma. No decorrer do satsaṅga com ele, ele ensinou-me o que eu sei.`

 

            Quem seria o Avadhuta mahatma?

            Por anos, ocasionalmente, tirava um tempo para tentar saber mais sobre este

mestre, até que um dia em Janeiro de 2023 descobri o nosso Swami Pranavananda nos arquivos do Ashram de Ramana Maharshi[5]. Segundo os arquivos do Ashram:

“Swami Pranavananda foi um dos primeiros devotos a ir ter com Bhagavan [Ramana Maharshi]. Ele visitou Bhagavan em 1910, na caverna de Virupaksha. A sua integridade e forte aspiração espiritual ganharam-lhe um lugar invejável entre os devotos de Bhagavan. Ele foi um dos primeiros companheiros íntimos de Bhagavan. O seu amor por Bhagavan era tão grande que ele entregou-se incondicionalmente aos pés de Bhagavan, ...

Pranavananda considerava Bhagavan a própria personificação dos Vedas e das Upaniṣads e tinha um grande amor e reverência por ele. Bhagavan também tinha um especial cuidado e consideração por Pranavananda.”

 

            Encontramos naqueles arquivos um relato da vida de Swami Pranavananda e da sua associação com Ramana Maharshi. Ficamos a saber como o Swami Pranavananda esteve envolvido na publicação de livros de Ramana Maharshi e como ele próprio traduziu para Telegu livros de Ramana como Who am I?, Vicharasangraham, Vivekacūḍāmaṇi e Devikalottaram. Ficamos também a saber que ele escreveu livros originais como Rama Maharshi Charitramu, Advaitabhoda Dipika, Tatvamali Dhyanamu, Sri Guru-Anugraha-avataramu, Dipamu Choodandi e Sri Ramana Stutipaatalu[6].

            Descobri ali que o Swami Pranavananda tinha em grande estima o Rāma tāraka mantra, e que o ensinava aos seus alunos para que os seus corações e mente adquirissem clareza e brilho. Ele tinha também o hábito de ensinar o Rāmāyaṇa aos seus alunos para que eles aprendessem a apreciar e admirar o épico.

            Diz-se ali, que no fim da vida, o Swami Pranavavanda pediu que alguém próximo cantasse com ele Rudram. No final da recitação, fechou os olhos, disse Hari Om, e assim terminou a sua vida.

 

            Do que consta dos arquivos a influência de Ramana Maharshi sobre Swami Pranavananda foi enorme! Parece claro que ele era o Avadhuta mahatma que o Swami Pranavananda mencionou ao Swamiji. Afinal haveriam dois Swami Pranavananda com um ashram em Gudivada que morreram no mesmo mês de Maio do ano de 1969!?

            Não sabemos se o Swamiji sabia que o Avadhuta Mahatama era Ramana Maharshi. Talvez soubesse e por isso tenha querido honrar o mestre do seu mestre ensinando os textos de Ramana. Afinal foi o Swamiji que ajudou a popularizar o Upadeśa Sāram e Saddarśanam de Ramana. Por outro lado, talvez não soubesse, porque nunca o ouvimos falar disso. Não tenho como dizer se sabia ou não.

            A relação do Swami Pranavananda com Ramana Maharshi era, quando a descobri, desconhecida da Professora Gloria Arieira e do Swami Paramarthananda com quem falei sobre o assunto.

            Por outro lado, não sabemos também quanto o próprio Swami Pranavananda ou outros terão influenciado Ramana. Numa das biografias oficiais do ashram de Ramana, Sri Ramana Leela[7], encontramos a seguinte passagem:

“Aqueles interessados na espiritualidade e yoga acercavam-se do Swami [Ramana Maharshi] com as suas dúvidas. Era natural para o Swami misericordioso responder-lhes. No entanto, para ensiná-los de uma forma que fosse inteligível para eles, foi necessário para o Swami tomar contacto com a terminologia aceite, conforme estabelecida pelos textos tradicionais. Era também necessário explicar os assuntos de uma forma que habilitasse os ouvintes a entender e praticar. Para este propósito tornou-se necessário olhar para os śāstras, não para ele mesmo, mas para benefício de outros. Apesar de estabelecido “naquele de onde a mente e as palavras voltam”, de forma a explicar sobre isso, o uso de palavras era inevitável. Também por este motivo o Swami teve de consultar as escrituras.”

 

            É interessante ver que Ramana fez uso do próprio śāstra para poder comunicar. Essa comunicação adequada de que tanto falava o Swamiji é o pramāṇatvam do śāstra. Essa imediatez que o Swamiji reconheceu no Swami Pranavananda é a mesma que eu vejo nos meus mestres. É a mesma que vejo no Swamiji, na Glória e na Ganga Mira. A esse pramāṇatvam das suas palavras, que são o eterno diálogo de ensinamento de mestre e discípulo das upaniṣāds, eu rendi-me e rendo-me, de novo e de novo.

 

            Olhando o próprio percurso do Swamiji cai por terra a divisão do ortodoxo/tradicional versus não ortodoxo/tradicional. A questão sempre foi e será em lidar com advaita vedānta não como uma teoria, não como uma experiência, mas como removendo a confusão sempre agora, nunca numa promessa futura, revelando o que sempre somos, agora. Como dizia o Swamiji, a beleza de vedānta é que se consegue negar a si mesmo. Quando o buscador é negado, quem permanece para ganhar mokṣa!?

 

            No final, o que sabemos, conforme o próprio Swamiji disse, é que depois do período de dúvidas que teve, da descoberta do pramāṇatvam no śāstra, o Swamiji voltou a olhar para o śāstra, estudou upaniṣad bhāṣyam e foi estudar sūtrabhāṣyam como o Swami Tarananda. O vínculo a Śrī Shankara era o âmago do ensinamento do Swamiji. O que o Swamiji valorizava era a visão de Śrī Shankara sobre o sāstra e não um comentário ou ṭīkā, só porque estava em sânscrito. Essa visão estava presente em palestras e aulas, tanto como quando ensinava o próprio bhāṣyam. Dessa maneira, na forma de ensinar, o Swamiji ter-se-á aproximado mais do seu último mestre, o Swami Tarananda. Ele manteve sempre isso até ao fim da sua vida, o manuseio do śāstra como pramāṇam.

 

            Lembro muitas vezes desta composição de Sadāśiva Brahmendra, chamada sarvam brahmamayam:

 

सर्वं ब्रह्ममयं रे रे

sarvam brahmamayam re re

Tudo é nada mais que Brahman,

किं वचनीयं किमवचानीयं किं रचनीयं किमरचनीयम्

kim vacanīyam kim avacanīyam kim racanīyam kim aracanīyam

O que deve ser falado, o que não deve ser falado, o que deve ser composto, o que não deve ser composto,

किं पठनीयं किमपठनीयं किं भजनीयं किमभजनीयम्

kim paṭhanīyam kim apaṭhanīyam kim bhajanīyam kim abhajanīyam

O que deve ser estudado, o que não deve ser estudado, o que deve ser reverenciado, o que não deve ser reverenciado

किं बोद्धव्यं किमबोद्धव्यं किं भोक्तव्यं किमभोक्तव्यम्

kim boddhavyam kim aboddhavyam kim bhoktavyam kim abhoktavyam

O que deve ser conhecido, o que não deve ser conhecido, o que deve ser experimentado, o que não deve ser experimentado,

सर्वत्र सदा हंस ध्यानं कर्तव्यं भो मुक्ति निदानम्

sarvatra sadā hamsa dhyānam kartavyam bho mukti nidānam

Em todo o lado, sempre, a contemplação da natureza de si mesmo deve ser levada a cabo. Essa é a causa e aí reside a liberdade.

 

Sadāśiva Brahmendra mostra-nos nesta composição o quão desnecessário e insignificante é entrar em discussões, esgrimir em argumentos, e como esse tempo deve ser dedicado à apreciação de que tudo é um ātmā īśvara brahma.

 

Sou grato a todos os mestres que passaram adiante a tradição de ensino, o uso da palavra, do silêncio e do olhar. Sou grato ao Swami Pranavananda que é uma inspiração sempre presente em mim. Sou grato ao Swamiji por não ter desistido da sua busca pela verdade. Sou grato aos meus mestres Swami Dayananda, Gloria Arieira e Ganga Mira pelo que me mostraram e por me permitirem o maior feito que poderia alcançar: o de ser seu discípulo.

 

O meu namaskāram,

          Miguel Homem

 

[1] Padma Narasimhan, Swami Dayananda Saraswati, Teacher of Teachers, AVRP, 2017, Chennai, Pag. 54.

[2] Padma Narasimhan, obra citada, Pag. 56.

[3] The teaching of Advaita Vedanta, http://tattvavidya.blogspot.com/2014/09/pujya-swami-dayananda-saraswati-writes.html

[4] Padma Narasimhan, obra citada, Pag. 56.

[5] https://archive.arunachala.org/docs/cherished-m/ch-68

[6] Quem sabe alguém os encontra e eles possam ser traduzidos para inglês ou português. Ficarei muito agradecido se alguém me souber dar notícia desses livros.

[7] Sri Ramana Leela, a Biography of Sri Ramana Maharshi, Sri Ramanasramam, Trivannamalai, 2018, pag. 77.

Tarananda Giri.jpg

Swami Tarananda Giri

Swami Tarananda nasceu, por volta dos anos 1920, numa pequena vila no norte da India, talvez na área em que hoje é o Paquistão. Saiu de casa em busca de moksha, a liberação, ainda bem jovem. Foi para o Kailash Ashram, em Rishikesh, e lá tornou-se um renunciante, sannyasi.

Era muito rigoroso em suas disciplinas. Gostava de comida simples do norte da India: chapati, dal e legumes.

Ele estudou com o Swami Vishnudevananda que era chefe do Kailash Ashram. Swami Tarananda ensinava Vedanta, Sânscrito e Lógica. Mais tarde, ao sair do ashram  de Rishikesh, ele vai para Haridwar onde mora sozinho.

Em Haridwar tinha uma vida de disciplina: acordava bem cedo, tomava banho de água fria numa bica e por volta das 4:30 horas fazia e tomava seu chá. A cozinha era do lado de fora, com um fogo feito de gravetos. Depois do chá, fazia suas orações e caminhava.

No retorno de sua caminhada, olhava o ashram, comia frutas e recebia pessoas que vinham falar com ele. Perto do meio-dia almoçava e descansava um pouco. Depois, acordava, tomava chá, lia, ensinava uma ou duas aulas, andava no final da tarde, falava com outros renunciantes no caminho e voltava, fazia orações, jantava e se retirava para dormir. Enquanto seu corpo permitiu, Swami Tarananda fez caminhadas diárias.

Ao dar aulas, ele, que tinha uma memória fantástica, citava sutras da gramática sânscrita; mostrava conhecer muito bem a filosofia das religiões ligadas aos Vedas, como Budismo e Jainismo e conhecia bem religiões e línguas comparativas. Suas aulas eram em hindi e sânscrito.

Swami Dayananda estudou Brahmasutras, no Kailash Ashram, com Swami Tarananda quando viveu em Rishikesh de 1964 a 1967. Por sua vez, Swami Tarananda estudava ao mesmo tempo com Swami Vishnudevananda. E Swami Dayananda dava aula de Brahmasutras para alguns alunos logo depois. Assim fluía a tradição de ensinamento, sampradaya.

Em algumas ocasiões Swami Dayananda levou seus alunos dos vários cursos para conhecer e reverenciar o Swami Tarananda.

Nos anos 90, a saúde de Swami Tarananda estava fraca e Swami Dayananda pediu para que ele fosse ficar em Rishikesh onde ele poderia ser cuidado pelas pessoas do ashram.

Swami Tarananda Giri viveu em paz e morreu em paz, em fevereiro de 2004.

Texto original de Uday Acharya: http://discover.hubpages.com/

Dayananda3.jpg

Swami Dayananda 

Swami Dayananda Saraswati nasceu em uma vila no sul da Índia. Em 1953, morando e trabalhando em Chennai, vem a saber de uma série de palestras ministradas por Swami Chinmayananda, que se torna um de seus mestres, o que transforma sua vida. Dá início, então, ao aprofundamento do seu conhecimento de Vedanta e Sânscrito e em 1962 torna-se um renunciante.

Começou a ensinar Vedanta e Sânscrito em Rishkesh, no norte da Índia, às margens do rio Ganges, e em 1973 foi chamado por Swami Chinmayananda para ensinar durante dois anos e meio a um grupo de 50 estudantes em Mumbai.

Foi o início de vários cursos na Índia e nos Estados Unidos. Seus cursos, também ministrados em Inglês, abriram aos estudantes do Ocidente a oportunidade de acesso a este ensinamento.

Swamiji, como é conhecido por seus discípulos, viajou por toda a Índia ministrando cursos e palestras, e desde 1976 foi para os Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Suécia, Austrália, África do Sul, Brasil e Argentina. Em todos esses países, assim como na Índia, era conhecido por sua facilidade de comunicação e pela clareza e profundidade de seu conhecimento de Vedanta e da complexidade humana.

A primeira visita de Swamiji ao Brasil data de dezembro de 1978. Desde então,  realizou 13 visitas ao nosso país, tendo estado em São Paulo, Recife, Porto Alegre e Campinas, além do Rio de Janeiro. Seus cursos e palestras eram traduzidos para o português pela Professora Gloria Arieira.

Em março de 1999, tivemos a oportunidade de conviver com ele em um curso de quatro dias em Itatiaia, sul do Estado do Rio de Janeiro. Sua última visita foi ao Rio de Janeiro, em 2004, onde, com clareza e eloquência fez várias palestras e satsangas para mais de 400 pessoas.

Swamiji estabeleceu dois ashrams na Índia, um em Rishikesh e outro em Coimbatore, e o Arsha Vidya Gurukulam, nos Estados Unidos. Nessas instituições, Swamiji era o principal professor. Os cursos de Vedanta e Sânscrito tiveram duração de trinta meses, em regime residencial, e o ensinamento é passado de mestre a discípulo, num fluir permanente, que tem como objetivo desdobrar a visão de "eu" como um Ser completo e livre.

Recentemente, Swamiji criou um programa para ajudar as pessoas que vivem em áreas distantes dos centros urbanos, na Índia.

Este programa oferece uma ajuda nas áreas de saúde, educação, auto-suficiência e validação cultural. Esse movimento chama-se All India Movement for Seva, AIM for Seva, movimento de toda a Índia para o serviço.

Ele também conseguiu reunir vários representantes de diferentes sampradayas, as várias tradições de ensinamento da Índia, o programa é chamado de Acharya Sabhá.

 

Na vila em que ele nasceu, Manjakuddi, no estado de Tamil Nadu, foram estabelecidas escolas para crianças de todas as idades e uma universidade que serve várias vilas ao redor de Manjakuddi. A vila foi reformada mantendo o seu formato tradicional. Alunos de Swamiji levam seus alunos para a vila para fazerem camps de estudos de Vedanta e tradição védica, pois foram construídos lugar para abrigar e alimentar as pessoas que vão estudar e uma confortável sala para aulas. É uma experiência única em uma vida muito confortável no sul da India, enriquecida pela presença de Swamiji pois foi ali que ele viveu até seus 20 anos.

Em 2010 Swamiji completou 80 anos.

Em 2011 completou 1.000 luas de vida, e um evento comemorativo desta data, chamado de Satabhishekam, aconteceu em Coimbatore, no sul da India, nos dias 20 a 22 de julho de 2011. Foi uma homenagem ao Swamiji e reconhecimento por seus anos de dedicação ao ensinamento de Vedanta, proteção da cultura védica e serviço social através do AIM for Seva.

 

Em 23 de setembro de 2015, Swamiji alcançou mahasamadhi, em seu ashram de Rishikesh, India, à beira de Ganga, num momento de muita paz e quietude. Todos seus alunos e devotos sentem sua presença a permear o universo.

Homenagem à Swami Dayananda

Imagem3.png

CLIQUE na imagem e ASSISTA a homenagem realizada no dia 24/09, ao mestre Swami Dayananda, no Vidya Mandir.

Gloria.jpg

Gloria Arieira

Gloria Arieira é a Diretora Presidente do Vidya Mandir.

Em janeiro de 1974 foi para a Índia estudar com Swami Dayananda, que tornou-se seu mestre. Com ele estudou até julho de 1978, retornando então ao Brasil. Além de permanecer no Ashram Sandeepani Sadhanalaya, um local de estudo e vivência com o mestre, em Mumbai, também estudou em outros ashrams em Uttarkashi e Rishikesh, norte da Índia. Viajou também para lugares nas várias regiões da Índia, para participar de cursos, palestras e visitas a lugares sagrados, como os templos de Tamil Nadu e Kerala, conhecendo melhor a tradição cultural e religiosa dos Vedas.

Desde seu retorno, vem ensinando Vedanta e Sâsncrito no Rio de Janeiro e em outras cidades do Brasil e também no Porto, em Portugal. Dedica-se também ao trabalho de tradução para o Português dos textos em Sânscrito, como a Bhagavadgita, Upanishads e vários outros. É responsável pela publicação em português dos livros de Swami Dayananda, editados pela Vidyamandir Editorial, e de dois outros livros: Orações Milenares e Puja - a realização de um ritual védico.”

Prêmio Padma Shri 2020

Janeiro de 2020

Literatura e educação em sânscrito e Vedanta no Brasil.

Vidya Mandir tem o orgulho de anunciar que Gloria Arieira foi agraciada com uma das maiores honras civis da Índia, o Padma Shri Award, no Dia da República de 2020, por sua literatura e educação em sânscrito e Vedanta no Brasil.

Saiba mais ...

Gloria padma announcement.jpg

As escrituras dos Vedas no Brasil

Sweet Blog: nectarine divine literature

30 de setembro de 2010

Gloria Arieira, uma brasileira e uma autoridade em sânscrito, traduziu o Bhagawad Gita e partes dos Vedas para o português, permitindo que seus alunos em todo o Brasil e Portugal acessassem as profundezas dessa grande filosofia. Então, se você está em busca de espiritualidade no balneário de Copacabana, no Rio, você a encontrará na Vidya Mandir, uma escola de estudos da Vedanta fundada e administrada por Gloria.

Saiba mais ...

IMG-20210904-WA0006.jpg

Rua Miguel Lemos, 44, sl 902 - Copacabana - Rio de Janeiro/RJ

Cep: 22071-000 | Brasil

  • Preto Ícone Facebook
  • Preto Ícone YouTube
  • Preto Ícone Instagram
Artboard 1.png
bottom of page